O que os Millennials podem nos ensinar? – com Yara Selles
Educação

O que os Millennials podem nos ensinar? – com Yara Selles

Tempo de leitura: 11 minutos

Conexão, liberdade, coletividade e velocidade são alguns dos valores que regem a geração de adolescentes e jovens conhecidos como Millennials. Nascidos a partir dos anos 90, representam um grupo de pessoas que vem mudando as regras comportamentais da nossa sociedade.

Mudanças essas que afetam esferas como consumo, relações pessoais e até mesmo o mercado de trabalho. Caracterizados pelo engajamento com causas sociais e preocupações coletivas, eles já representam 25% da população mundial.  

Conversamos com Yara Selles, psicóloga e mãe da Susana, da Simone e do Vítor. Ela nos contou como observa a diferença geracional entre seus três filhos e como esses traços marcam e ensinam sua família.

Convivendo e aprendendo com 3 gerações

A família da Yara é composta por 3 gerações diferentes. Ela e o marido representam a geração X, os baby-boomers, nascidos pós Segunda Guerra Mundial. A sogra, Dona Mercedes, aos 89 anos, é o lado mais tradicional da casa, enquanto os filhos Susana, Simone e Vitor representam os Millennials. Vitor, com 16 anos, nasceu em 2002 e já chegou em um mundo totalmente conectado.

A revolução digital foi um marco para a história da humanidade, por isso, os nascidos após 2000 sentem ainda mais esta influência. Yara conta que os 9 anos que separam Simone do filho mais novo acentuam uma enorme diferença comportamental:

“Existe diferença sim entre gerações, e elas estão sendo cada vez mais curtas. Antes a mudança geracional era entre pai e filho, hoje, em poucos anos, já é possível notar. Entre as minhas filhas, que são apenas 4 anos, já é possível distinguir. Entre a Simone e o Vitor, que são separados por 9, a diferença é ainda maior.”

Nascidos na era em que qualquer informação está nas pontas dos dedos, estes jovens acreditam que o tempo não é um “problema” . Com acesso fácil aos quatro cantos do mundo, seus anseios parecem muito mais acessíveis, o que gera um comportamento imediatista. Esta mesma sensação de velocidade também dita seus interesses. A rapidez com que se envolvem com certos assuntos é a mesma que os faz deixar de lado e procurar novas possibilidades.

Yara conta que esta característica é bastante frequente na vida de Vitor. A mãe usa como exemplo seu envolvimento com instrumentos musicais e modalidades esportivas. De acordo com ela, ele já estudou alguns instrumentos e já praticou vários esportes. Todavia, transita por todos eles com uma certa impaciência em relação ao desenvolvimento do aprendizado.

Rompendo muros e regras

Outra forte característica desta geração é o rompimento com os conceitos tradicionais que orientam a sociedade. Concepções como diversidade sexual, feminismo, identidade de gênero são tratados com naturalidade. Além disso, questionar é um hábito quase inerente à personalidade.

“O Victor é questionador, ele debate expondo suas próprias opiniões. Acho isso legal porque ele questiona para ter sua própria forma de ver o mundo. Por exemplo, ele gosta de aprender entendendo e experimentando, então acaba se revoltando com a velha decoreba, uma forma tradicional do aprendizado, na verdade ele prefere construir o conhecimento.” – se orgulha Yara.

Da mesma forma, a compreensão de que fazem parte de um espaço coletivo é uma aflição constante. O que faz com que muitos deles estejam engajados com causas sociais e atentos às consequências de seus atos para a realidade do próximo. Na casa da Yara, toda a família carrega essa preocupação, estão sempre debatendo política, direitos e movimentos sociais. A mãe acredita que esse ambiente promove uma maior liberdade para que os filhos manifestem seus pensamentos, mas observa que Vitor tem um cuidado genuína desde muito cedo.  

“Victor tem empatia para muitas coisas desde pequenininho, ele tem uma preocupação com os moradores de rua que moram perto da escola dele e fala sempre sobre isso.”

Experiência é a palavra chave

A maneira como estes jovens se divertem, seus desejos e o conceito de sucesso estão causando uma onda de transformação no mercado de consumo e trabalho.

Para eles, o que vale é a experiência e, geralmente, menos é mais. Quer dizer, o consumo excessivo é trocado por vivências qualificadas em todos os aspectos da vida. Na diversão, o que importa é estar junto de quem se ama. O que combina muito com o que Yara conta sobre o lazer da família. Ela relata que eles gostam de fazer passeios juntos e de estarem sempre próximos. Já o filho, ela diz gostar de estar na casa dos amigos, o que ele chama de “resenha”.

No mercado de trabalho isto é sentido na concepção de sucesso. Antigamente, era muito comum que o dinheiro e o acúmulo de bens estivesse associado ao êxito profissional, hoje, têm sido substituído pelo prazer no que faz.  Aquela história de viver para trabalhar e cumprir horário em empregos formais já não é mais uma opção. Os jovens de agora querem ser felizes trabalhando com o que amam, mesmo que precisem abdicar dos altos salários.

Desabafo esperançoso de uma mãe

“Eles nos ensinam muito, e estou aprendendo, inclusive, a ter mais paciência, tenho gritado menos, me irritado menos e optado pelo diálogo. Aprendemos a respeitar o jeito de ser e o tempo de cada um. Minha sogra também mora em nossa casa e tem uma diferença enorme de geração. É uma confusão bonita, que todo mundo se ama mesmo com suas escolhas.

A vida pode ser de formas muito diferentes, não precisa ser o jeito tradicional para dar certo, ela também pode funcionar de outras maneiras. Nós, eu, o pai e a avó deles, fomos criados com pensamentos diferentes e muitos preconceitos. Atualmente, existem várias formas de ser e se relacionar, como os trans, os bissexuais, os relacionamentos abertos, precisamos ouvir mais sobre este novo olhar. Lá em casa são nossos filhos que sinalizando quando a gente faz algo errado em relação ao machismo, à homofobia e todas as formas de desrespeito.”

Inevitavelmente, vamos precisar viver em mundo onde todas essas gerações convivam juntas, ensinando e aprendendo colaborativamente. Uma troca rica que constrói um amanhã com mais cores, solidariedade e respeito.

E você, também têm aprendido com seus pequenos?