#Tododiaédiamãe: o sonho realizado de Roberta
Hoje, o #tododiaédiademãe vai contar a história de Roberta Bichara. Uma mulher que realizou o sonho da sua vida quando olhou pela primeira vez o rostinho do pequeno Raul, sua cópia autenticada.
(Clubinho de Ofertas) Com quantos anos você teve o Raul?
Roberta Bichara:Tive o Raul com 36 anos. Achava que nunca conseguiria ser mãe.
(C.O) O que passou na sua cabeça quando você soube da gravidez?
R.B: Foi o dia mais louco e o mais estranho de toda a minha vida. Preciso contextualizar, fui casada durante 12 anos e me separei. Depois de um processo complicado, engravidei do meu ex. Então, todas as preocupações convencionais foram multiplicadas por medos como: “será que ele vai assumir?”, “ será que terei ajuda?. Mas no final, tudo deu certo.
(C.O) Você já tinha pensando em ser mãe?
R.B: Durante toda a minha vida eu pensei em ser mãe. Cheguei a acreditar que não teria filhos de maneira biológica. E, apesar de não planejado, ele é a melhor surpresa da minha vida.
(C.O) O que mudou na sua vida depois da chegada do Raul?
R.B: Tudo mudou, minha vida e, principalmente, minhas percepções e prioridades. Ser mãe é um exercício diário de tentar ser melhor. Um teste para que você sempre tenha paciência e garra.
(C.O) Qual foi o maior desafio desse processo?
R.B: O maior desafio foi desconstruir a ideia de maternidade. Sempre imaginei que teria alguém ao meu lado. Não tive. Imaginei que o Raul dormiria a noite inteira. Ele não dorme até hoje. São tantos conceitos que as mulheres crescem escutando, conceitos que só tornam a maternidade mais difícil do que ela já é.
(C.O) Todo mundo tem uma ideia sobre a maternidade na cabeça, mas, provavelmente, você se surpreendeu com muitas coisas. Dessas descobertas, o que mais mexeu com você?
R.B: A maternidade é uma descoberta. Para uma pessoa como eu, imediatista, saber que ele tem seu próprio tempo é mágico. Descobrir, também, como se forma uma personalidade, o raciocínio lógico é fascinante. Mas acho que nada se compara a descobrir quanto um amor consegue ser forte.
(C.O) O feminismo mudou a cara da mulher de hoje em dia, como você acha que esse movimento influenciou na relação da mulher com a maternidade?
R.B: Sem dúvida nenhuma. O feminismo ajuda a desconstruir os mitos, faz com que homens e mulheres tenham uma criação mais justa e igualitária. Acredito que essa é a chave para uma mudança na sociedade.
Ela já tinha o cabelo liso, mas fazia questão de fazer permanente comigo para que eu não me sentisse mal por ser a única a alisar o cabelo, ela me acompanhava.
(C.O) Você reconhece alguma atitude sua, como mãe, que você “condenava” ou apenas achava que nunca faria, mas que a maternidade te ensinou que era preciso?
R.B: Várias!!! A primeira foi em relação aos desenhos animados. Disse que ele nunca assistiria, mas ocasionalmente ele já vê! Outra foi o super controle alimentar. Bom, apenas posso dizer que ele já descobriu o que é um brigadeiro.
(C.O) Qual é a parte mais difícil do seu dia a dia?
R.B: A parte mais difícil é deixá-lo em casa. Mas sei que é importante pra mim e pra ele. Agora, praticamente falando, a hora de dormir é a mais complicada. Ele briga com o sonho, demora, quer brincar até, literalmente, não aguentar.
O mercado de trabalho
(C.O) Quando você descobriu que estava grávida você trabalhava?
R.B: Sim, trabalhava. E tive todo apoio da empresa que trabalhava. Mas sei que é raro.
(C.O) Muitas mães encontram dificuldades em voltar a trabalhar e levar uma dupla jornada. Como foi voltar para o mercado de trabalho?
R.B: Voltar ao mercado foi angustiante. A agência que trabalhava fechou logo após minha volta da licença maternidade. Fiquei alguns meses fazendo trabalhos esporádicos, mas consegui um emprego. O mercado ainda tem muito preconceito em contratar mães recentes. Coisa que não acontece com homens.
(C.O) Pensando em suporte e compreensão por parte dos colegas de trabalho e patrões, você acha que o mercado de trabalho dá condições para que as mães possam viver a maternidade de forma integral?
R.B: Não. O mercado é injusto. A licença maternidade é de 4 meses, a Organização Mundial da Saúde aconselha a amamentação por 6 meses. Tudo é complicado. Você se sente culpada de não dar atenção e se sente mal por não se dedicar ao trabalho. Patrões e empresas que aceitam são raras. Muito raras.
(C.O) O Brasil tem cerca de 30% das mães sendo mães solteiras. Você atualmente não está com o pai do Raul, qual é o desafio disso?
R.B: Ser mãe solo é absolutamente complicado. Além do dia a dia, que você não tem uma pessoa para dividir as angústias e as responsabilidades. Você enfrenta as perguntas e pessoas sem noção como: “quem é o pai?”, “Ele paga pensão?”. E acredite, essas são as mais leves.
(C.O) Muitas mães relatam preconceito em relação a essa condição, você concorda com isso?
R.B: Sim. Existe um preconceito velado. As pessoas acham que até para ser mãe precisa-se da validação de um homem. Antes achava constrangedor, agora, faço questão de escancarar minha condição.
(C.O) O fato de ser mãe já te impediu de fazer alguma coisa?
R.B: Não me impediu, mas me fez repensar algumas vezes. Sempre penso que ele tem a mim e eu o tenho. Isso muda muito a sua percepção. Inclusive de diversão.
(C.O) Qual é a coisa mais importante que você acredita que deixa para o seu filho?
R.B: Ele não vai crescer em uma família tradicional e quero mostrar que tudo bem em não ser convencional. Quero que ele cresça respeitando as diferenças. Sendo um ser humano melhor do que eu.
(C.O) Qual a sua maior lembrança da sua mãe durante a infância?
R.B: Engraçado, minha mãe é muito presente na minha vida. Ela mudou de cidade para me ajudar a cuidar do Raul, mas na infância ela se esforçava para cuidar da minha irmã. Por isso, quando penso em maternidade eu lembro muito da minha avó. Acho que a maior lembrança é quando ela ( a avó) fez permanente para que eu me aceitasse melhor com o meu cabelo crespo. Ela já tinha o cabelo liso, mas fazia questão de fazer permanente comigo para que eu não me sentisse mal por ter a única a alisar o cabelo, ela me acompanhava.
(C.O) Para você, qual o real significado da palavra mãe?
R.B: Nossa…tem uma frase que digo para o Raul que é: “nada é maior. Ninguém é mais importante”. E acho que é isso. Ser mãe é ter todas as vias de convicções viradas de ponta cabeça e saber que está tudo bem. É não esquecer de você, mas realmente se doar por alguém. Mãe é sinônimo de amor e também, amor próprio.