Por Laíse Neves: a negritude e a consciência
O mês todo de novembro é dedicado à conscientização sobre o racismo, um dos grandes desafios da nossa sociedade. Em especial, o dia 20 de novembro é uma data importante para debater, refletir e explicar porque precisamos repensar nossas atitudes, e como pequenas mudanças são potentes na promoção da inclusão.
Para isso, disponibilizamos um espaço em nosso Blog para que nossa social media, Laíse Neves, mulher negra e militante, pudesse falar um pouco desta realidade e como podemos fazer parte desta luta.
Com vocês, Laíse!
Muito mais que um dia
Na quarta-feira passada, dia 20/11, foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Muito mais que um dia de “comemoração”, a data em si é sobretudo para refletir e repensar sobre os lugares ocupados por pessoas negras na sociedade brasileira. Segundo o IBGE, a população negra representa cerca de 56,10% do país e ainda assim é a população que mais sofre com a desigualdade em diversos campos sociais. Por falar em desigualdade, já reparou na quantidade e variedade de bonecas(os) negras(os) que existem à venda? Novamente: sendo mais da metade da população brasileira negra, por que existem mais bonecas e demais brinquedos infantis com traços eurocêntricos? A resposta é “racismo estrutural” e não “mimimi”, como muitos julgam.
Para além dos brinquedos, é durante a infância que crianças têm seus primeiros contatos com o mundo e fazem descobertas. A escola é o principal canal social e nela infelizmente pode haver situações desagradáveis como casos de bullying e racismo. Aliás, você sabe a diferença?
Segundo o dicionário Michaelis, bullying é o Ato agressivo sistemático, envolvendo ameaça, intimidação ou coesão, praticado contra alguém, por um indivíduo ou um grupo de pessoas. Ocorre geralmente em escolas, porém pode ser praticado em qualquer outro local. Trata-se de ação verbal que pode, em situações extremas, evoluir para agressão física, enquanto racismo é teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as raças (etnias); Doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e superior, de dominar outras; Preconceito exagerado contra pessoas pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente considerada inferior; Atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos. Diferenciar as duas situações principalmente em lugares como a escola é uma linha tênue, mas em suma, é considerado racismo quando um jovem ou uma criança negra é vítima de uma pessoa com perfil agressivo, mas que não ataca ou atacaria uma pessoa branca, ou seja, é alvo de agressões verbais e/ou físicas apenas por sua cor da pele e isso independe de status social e financeiro. Racismo é crime e deve ser denunciado.
5 expressões e palavras racistas para excluir do seu e do vocabulário do seu pequeno o quanto antes:
Mulata – A palavra é de origem espanhola e se refere à mula, animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da escravidão, muitas escravas eram abusadas sexualmente pelos patrões engravidaram. Por fim, seus filhos eram chamados de mulatos devido ao resultado do cruzamento de um homem branco com uma mulher negra. Extremamente pejorativa, se torna ainda mais quando utilizam a expressão “mulata tipo exportação”, hiperssexualizando o corpo da mulher negra, tratando-a como mercadoria.
Da sua cor/escurinho(a) – Essa expressão geralmente é falada enquanto a pessoa faz um gesto de indicação com a cabeça ou esfregando o dedo indicador no braço.
Da cor do pecado – Longe de ser um elogio, antigamente, ser negro era considerado pecado. Além dos líderes religiosos da época justificarem a escravidão como castigo divino, essa expressão também carrega teor de hiperssexualização de corpos negros.
Cabelo duro/bombril – Não existe o “tipo cabelo duro”. Existe cabelo liso, cacheado, crespo, ondulado e misto.
Beleza exótica – Geralmente essa expressão é utilizada quando pessoas querem se referir a uma pessoa negra com traços negróides mais aparentes como boca mais carnuda, nariz maior/acentuado, pele mais retinta.
*Extra: Negra(o) bonit(o) – Parece não ter nada demais não é?! Mas por que antes de um elogio é preciso sempre ressaltar que a pessoa é negra? Você costuma elogiar uma pessoa branca ressaltando a cor da pele dela falando “que branca bonita”? Também é um processo do racismo estrutural.
Refletir sobre Consciência Negra é muito mais que um dia. É como diz a escritora, filósofa, ativista e ex- Pantera Negra Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta ser não racista, é necessário ser antirracista.” E é a partir dos ensinamentos dados às crianças que conseguiremos (re)construir uma sociedade melhor.